Experiências antirracistas nos Serviços de Convivência para Crianças e Adolescentes

Para entender na práticas as possibilidades de uma atuação antirracista nos serviços do SUAS, conversamos com dois coordenadores de Serviços de Convivência para Crianças e Adolescentes Caminhando Juntos (Cajuns), serviço vinculado à Secretaria de Assistência Social de Vitória (ES). As atividades têm por objetivo promover o desenvolvimento de capacidades e potencialidades desse público, em conformidade com as diretrizes do SUAS para o serviço de convivência e fortalecimento de vínculos. Em uma conversa franca e aberta, Lisa Alpoim, coordenadora do Cajun do Morro do Quadro reconhece que, mesmo sem intenção, o racismo pode se manifestar nas próprias falas dos trabalhadores dos serviços e que para combater o racismo, é necessário um esforço permanente de atenção e educação. Confira a entrevista abaixo.  Visita ao Museu Capixaba do Negro – experiência do Cajun Morro do Quadro  Como a questão do racismo aparece no cotidiano do serviço de convivência e quais as expressões do racismo no dia a dia das crianças, adolescentes e suas famílias? A questão do racismo aparece no dia a dia dos serviços de convivência. Conversando com a equipe, foi um consenso de que em todo o território aparece muito no dia a dia, seja na forma da organização do cabelinho ... Continuar Lendo

Diálogos sobre o SUAS com servidores públicos de Jundiaí

Sempre recebemos com alegria e entusiasmo o convite dos municípios para disseminar ideias e conteúdos sobre o trabalho social no SUAS para um público mais amplo. Em setembro, Jundiaí (SP) nos deu a oportunidade de participar das atividades do 1º Mês do SUAS, uma iniciativa da gestão municipal que promoveu seis encontros semanais trazendo contribuições de diferentes especialistas da área. Esses encontros, no formato de seminários e oficinas participativas, tiveram como objetivo fortalecer os servidores públicos do SUAS para aprimorar seus conhecimentos e práticas no cotidiano dos serviços socioassistenciais. Em nossa participação no seminário sobre “Lógica sistêmica do SUAS”, disseminamos ideias importantes contidas no projeto institucional do SUAS a partir da Política Nacional de 2004. E pudemos dialogar sobre os principais impactos que a organização desta política pública como sistema único trouxe para o trabalho social. Entre esses impactos destacar que na organização por sistema operamos com a lógica do “e” e não do “ou”. Na lógica de sistema quando cada um define “o que é seu”, por consequência, está definindo o trabalho do outro, ou seja, se eu digo – “O CRAS faz até aqui e daqui pra frente é o CREAS que assume”, automaticamente está dito pelo CRAS ... Continuar Lendo

Orgulho de ser servidora

Em cada canto da cidade e em cada secretaria encontramos servidores que têm suas vidas entrelaçadas à sua unidade de trabalho. São trabalhadores/as, em sua maioria, com longa carreira de prestação de serviço ao público. Os serviços públicos e os/as servidores/as têm sido constantemente atacados, em muitas unidades estatais, e têm enfrentado inúmeras dificuldades para realizar o atendimento da população. Servidores/as públicos/as, questionam, exigem, fundamentam a necessidade de investimento nas políticas públicas, apresentam dados reais da inadequação da gestão pública que prejudica, minimiza e limita o atendimento à população. Inúmeros servidores/as adoecidos/as nos procuram no Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep) porque querem trabalhar, atender com qualidade a população, mas não conseguem, tanto pela falta de condições estruturais, físicas, materiais quanto pela falta de recursos humanos que dê conta das demandas que a população apresenta. O adoecimento dos/as servidores/as cresce vertiginosamente, uma vez que esses são regidos por um estatuto do funcionário público e seus respectivos códigos de ética e a administração pública busca formas de cercear e lhe incutir responsabilidades ou incumbências que lhes são afrontosas eticamente ou ferem seus deveres enquanto servidores/as. O profissional formado em Serviço Social pode e atua nos mais diferentes espaços sócio-ocupacionais e ... Continuar Lendo

Supervisão com equipes da proteção básica em São Paulo

Numa iniciativa inédita na cidade de São Paulo, gerentes dos serviços da proteção social básica tiveram oportunidade de contratar a supervisão para equipes os Serviços de Assistência Social às Famílias (SASF), o que antes só era possível para as equipes da proteção especial A supervisão foi desenvolvida com 45 trabalhadores da equipe de referência de três SASFs da região de Cidade Ademar no sul da capital paulista. Teve como ponto de partida as rodas de conversa nos locais de atuação destas equipes para facilitar a aproximação da Vira e Mexe desse cotidiano e favorecer a explicitação dos desafios cotidianos que mobilizam as equipes de SASF.  “Foi a partir dessas rodas de conversa que traçamos a rota e firmamos nossos propósitos. As rodas nos permitiram reconhecer os impactos da pandemia nas relações cotidianas nos territórios e como elas estavam sendo notadas pelas equipes e favoreceram o diálogo sobre o quanto a pandemia alterou e reduziu a capacidade de proteção das famílias” explica Abigail Torres, sócia diretora da Vira e Mexe sobre o ponto de partida da formação que aconteceu de março a julho de 2022. Para a Vira e Mexe foi muito motivador ter na mesma roda a presença de cozinheiras, auxiliares ... Continuar Lendo

Como as equipes do SUAS podem atuar na prevenção do suicídio e no cuidado de pessoas enlutadas

Em setembro, o tema de prevenção de suicídio ganha destaque nas mídias devido à mobilização de diversas instituições públicas, privadas e da sociedade civil engajadas nas campanhas do setembro amarelo, iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria, criada em 2013, com o apoio do Conselho Federal de Medicina. Conheça mais sobre a campanha Setembro Amarelo aqui. Embora tenha sido lançada pelo campo da saúde, a campanha Setembro Amarelo vem, a cada ano, mobilizando cada vez mais instituições de outros campos. A questão do suicídio e do luto de amigos e familiares de pessoas que se suicidaram também aparecem nos serviços do SUAS e, muitas vezes, os trabalhadores não sabem muito bem como lidar com ela. Entrevistamos André e Lucas, dois educadores sociais que possuem longa trajetória de atuação em serviços de acolhimento de crianças e adolescentes, abordagem de crianças e adolescentes em situação de rua e também fazem supervisão de equipes do SUAS. André é formado em Pedagogia pela Universidade de São Paulo e trabalha com crianças e adolescentes desde 2011. Trabalhou com crianças e adolescentes em situação de rua; atuou no Projeto Quixote, centro integrado que conta com serviço de fortalecimento de vínculos e Capes voltado para o atendimento à ... Continuar Lendo

O que os serviços do SUAS têm a ver com o fenômeno do suicídio

Embora seja uma temática difícil e implique lidar com intenso sofrimento, o suicídio é um fenômeno que precisa ser abordado e compreendido pelas equipes dos serviços do SUAS. É importante que as equipes estejam mais seguras e preparadas para que possam compor, junto com as políticas de saúde e educação, a rede de proteção e apoio tanto às pessoas com comportamento suicida, quanto as famílias enlutadas. Suicídio na perspectiva da saúde A partir de 1990, o suicídio foi considerado um problema a ser enfrentado pela saúde pública. Esse reconhecimento faz com que um fenômeno aparentemente individual e privado seja tratado como pauta de atenção em ações estratégicas no SUS. A imensa maioria das pessoas que tenta ou comete suicídio é acometida por algum transtorno mental, sendo o mais comum a depressão. Do ponto de vista da política pública de saúde, o suicídio tem sido analisado como fenômeno coletivo com base nas análises da Vigilância em Saúde, trazendo informações para subsidiar políticas para diagnóstico, atenção, tratamento e prevenção. De acordo o Boletim Epidemiológico de 2021, do Ministério da Saúde, a taxa de risco de suicídio entre homens é cerca de 4 vezes maior do que entre mulheres. E no período entre ... Continuar Lendo

A construção de diálogo entre equipes da básica e da especial em Guararema (SP)

“Um dos maiores desafios era a construção de um trabalho articulado entre as equipes da proteção básica e da proteção especial, como nos foi relatado pelas equipes logo no início” conta Stela Ferreira, sócia diretora da Vira e Mexe sobre o trabalho de apoio técnico e supervisão às equipes do SUAS do município de Guararema (SP) com foco no fortalecimento do trabalho social com famílias. Foi um processo de 10 meses com oficinas presenciais e virtuais, coordenadas por Stela Ferreira e She Nilson, envolvendo cerca de 30 trabalhadores e trabalhadoras. A coordenadora do CREAS de Guararema, Joseane, lembra como havia falta de alinhamento entre as equipes antes e as mudanças que ocorreram a partir da formação com a Vira e Mexe. “Para falar para outras políticas a gente precisaria também se entender. A maior diferença que eu percebi no cotidiano foi essa necessidade de comunicação internamente. E quando a gente muda isso e consegue enxergar, a gente começa a buscar diálogo e isso nos fortalece para a gente conseguir falar para fora; acho que isso foi a maior diferença que a gente teve no trabalho” conta. Stela ressalta que um dos resultados positivos foi o envolvimento de diferentes pessoas das ... Continuar Lendo
Pessoas em fila

O CadÚnico não deve condicionar o acesso aos serviços do SUAS

Stela Ferreira O Cadastro Único é uma ferramenta de organização de informações para acesso aos programas sociais do governo federal e, em alguns casos, para acesso a programas estaduais e municipais. Portanto, ele é um instrumento que pode apoiar a gestão no planejamento para acesso a programas, projetos e benefícios e não aos serviços socioassistenciais. Nas legislações do SUAS o acesso aos serviços não está condicionado ao Cadastro Único, ou seja, a/o cidadã/o tem direito a acessar os serviços independentemente de estar no Cadastro Único. O acesso aos serviços do SUAS está garantido para todos grupos e indivíduos em situações de desigualdade social que fragilizam relações afetivas, comunitárias e com serviços públicos. São essas vivências coletivas de desproteção relacional que devem ser acolhidas pelos serviços. Portanto, condicionar o acesso aos serviços do SUAS ao Cadastro Único significa criar barreiras de acesso. Não é justo que as/os cidadãs/os fiquem horas em uma fila para fazer o cadastro e saiam sem saber a que terão acesso, efetivamente. Esse não é o tratamento digno que queremos oferecer aos usuários da Assistência Social. Os serviços do SUAS devem garantir a segurança de acolhida por meio do trabalho social, um trabalho vivo em ato (Merhy ... Continuar Lendo

A “caixa-preta” do Auxílio Brasil

Hernany Castro[1] Algoritmos são classificadores construídos por operadores de decisões políticas para gerar determinado resultado. São sequências de códigos, instruções e operações, elaboradas em linguagem informática, voltadas para a programação de cálculos, equações e problemas matemáticos específicos, no presente caso, desenvolvidas a partir de critérios previstos em normas do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (Cadastro Único) e do programa Auxílio Brasil. No entanto, as regras legais dos programas sociais não migram direta e automaticamente da “letra fria” da norma para dentro do “sistema”. Essas regras, aliás, não são propostas pelo legislador para esse tipo específico de aplicação. Portanto, há necessidade de uma interpretação para viabilizar a aplicação do algoritmo. Desse modo, o operador realiza a “tradução” dos critérios previstos na norma para dentro do “sistema”, convertendo-os em linguagem que permitirá ao computador e respectivos softwares a leitura e a aplicação do comando. Minha hipótese é que parte considerável dos problemas da chamada “fila” do Cadastro Único e do Auxílio Brasil estão relacionados aos algoritmos, para os quais não se traduz tão somente as regras do programa social, mas também um conjunto unívoco de escolhas pessoais que envolvem disposições, bens e práticas simbólicas, valores, crenças e preconceitos de ... Continuar Lendo

O trabalho escravo contemporâneo e o SUAS

É consenso que o podcast “A mulher da casa abandonada” da Folha de S.Paulo, lançado em junho, é um sucesso de audiência, já tendo alcançado em pouco mais de um mês, milhões de downloads. Entretanto, o embate de opiniões está entre os que acham que a produção é uma obra prima do jornalismo investigativo que retrata a desigualdade social brasileira. E, do outro lado, os que criticam por espetacularização da violência racista, ao narrar de maneira cativante a história verídica envolvendo uma mulher da elite oligárquica brasileira, fugitiva da justiça americana por ter cometido o crime de manter uma mulher negra em condição análoga à escravidão por 20 anos nos EUA, e que mora em um casarão caindo aos pedaços no bairro de Higienópolis, área nobre da capital paulista.  O que queremos destacar desta história é que o podcast joga luz em um crime nada excepcional, pelo contrário, que está muito presente nos nossos dias – o trabalho análogo à escravidão disfarçado de trabalho doméstico. As vítimas são, principalmente, as mulheres negras, migrantes e imigrantes em situação de vulnerabilidade pelo racismo, machismo e abandono do Estado e o SUAS tem muito a ver com isso.  Trabalho doméstico x trabalho análogo ... Continuar Lendo