Mesmo ainda não concluída a leitura, queremos compartilhar as nossas primeiras impressões do livro de Adilson José Moreira intitulado “Por que os seres humanos sofrem? Uma teoria psicológica dos direitos fundamentais” (ed. Autêntica) porque consideramos a obra extremamente relevante para as discussões que temos feito na Assistência Social sobre os processos coletivos de produção de desigualdade e as responsabilidades públicas em enfrentá-las.
Trata-se de uma pesquisa de 8 anos que busca, a partir da perspectiva de quem vive a experiência da exclusão, discutir o direito à vida com dignidade e respeito.
O livro desenvolve um bem-sucedido esforço de concretizar, por meio de vários exemplos e situações cotidianas, como é vivido o sofrimento decorrente da desigualdade e dos inúmeros processos de subalternização, ao mesmo tempo, em que demonstra como a estrutura social é organizada para produzir e sustentar processos de legitimação e naturalização da violência racial e de gênero.
Os inúmeros exemplos trazidos – inclusive partindo da própria narrativa do autor da sua vivência de sofrimento e de muitas situações de negação de si, da sua história, da sua sexualidade, numa inútil tentativa de reconhecimento na juventude – permitem concretizar que não se está falando de vivências individuais, mas sim danos coletivos vividos não somente pela ausência de acesso a direitos, mas pela negação da identidade e até da aspiração a viver direitos, pois todos os dias há situações repetidas para que grupos subalternizados desistam da luta pelo reconhecimento e pertencimento.
Ao analisar esses processos tão concretamente, o autor desmascara a violação de direitos humanos, não somente como ausência de acesso às condições de desenvolvimento ou até como negação de acesso às condições materiais de preservação da vida, mas também, e principalmente, a violação como um dano existencial, gerador de sofrimento, de desfiliação, de incerteza constante sobre as expressões de desrespeito e humilhação a que se estará submetido ou submetida.
A contribuição para os debates interdisciplinares sobre direitos humanos é inegável, e por isso mesmo se constitui em uma leitura obrigatória para dialogarmos sobre o lugar da Proteção Pública cuja finalidade é o enfrentamento de expressões de opressão, se constituindo no direito à vida, à dignidade, à autonomia e à participação social.
O caminho fortalecido por essa produção é o caminho dos coletivos, dos movimentos políticos e sociais para produzir “repertórios identificatórios” que ampliem horizontes e possibilitem planejar a vida sem sofrimento, com alegria e liberdade.
Abigail Torres, sócia diretora da Vira e Mexe