Que bell hooks é uma inspiração nos processos de educação permanente realizados por nós, da Vira e Mexe, todo mundo sabe. O que talvez ainda não seja de conhecimento de todo mundo é que essa pensadora estadunidentense, autora, militante antirracista e feminista, também nos ajuda a pensar a essência da proteção da política de Assistência Social. Vem que a gente explica melhor!
No livro Ensinando comunidade: uma pedagogia da esperança, bell hooks (a grafia do nome é com minúscula por desejo da própria) apresenta em 16 ensinamentos o que aprendeu ao longo de décadas. Como educadora de estudantes que eram, em sua maioria, negros, imigrantes e gays, ela sempre teve uma atitude esperançosa e de combate ao pensamento colonizador e elitista que circulava pelos corredores das universidades onde deu aula.
Ela nos inspira porque reconhecemos em seu modo de pensar e agir, ensinamentos valiosos para quem trabalha na Assistência Social, uma política pública que lida com os impactos das desigualdades nas formas de convivência das pessoas em diferentes espaços da vida.
No oitavo ensinamento, bell hooks nos adverte com precisão: para acabar com as práticas discriminatórias, garantir acessos igualitários não é suficiente. E ela fundamenta essa ideia argumentando que os anos de desvalorização e humilhação de grupos marginalizados e subordinados produzem efeitos no modo como a sociedade se organiza e se relaciona e, sobretudo, em quem vive na pele essas desigualdades:
“Até que o poder da humilhação seja levado a sério como uma ameaça ao bem-estar de todos, […] sobretudo de indivíduos pertencentes a grupos marginalizados e subordinados, não há equipe de apoio, programação comportamental positiva nem recursos materiais que os conduzam à excelência[…]”. hooks, 2017, p.168.
A proteção social e o desenvolvimento humano de uma sociedade perpassa pelo modo como suas relações são produzidas. A obra de bell hooks renova nossa esperança de que é possível produzir modos de conviver capazes de reconhecer, no humano genérico, a beleza da singularidade que existe em cada uma das pessoas.
A pensadora bell hooks nos lembra que a humilhação desumaniza e, para humanizar, é preciso vivenciar experiências de valorização e reconhecimento de potência. Se só podemos resistir às opressões em comunidade, é também em comunidade que abrimos passagem para que nossas singularidades possam (co)existir.
Referência:
HOOKS, bell. Ensinando comunidade: uma pedagogia da esperança. Trad. Kenia Cardoso. São Paulo: Elefante, 2021.
Yheda Gaioli (equipe Vira e Mexe)