Em junho, Abigail Torres esteve em Mogi das Cruzes (SP) para dialogar com diferentes agentes públicos sobre o Plano Municipal de Convivência Familiar de Crianças e Adolescentes. O encontro foi organizado pelo Núcleo Entretempos e a sócia-diretora da Vira e Mexe dividiu a mesa com Flávia Blikstein, doutora em Psicologia e estudiosa dos processos de institucionalização de crianças e adolescentes.
As provocações fomentadas pelas palestrantes, e algumas narrativas das pessoas presentes, tornaram ainda mais visível que o acolhimento institucional de crianças e adolescentes no âmbito do SUAS não tem seguido, em muitos municípios, as diretrizes estabelecidas no ECA. Isso tem se evidenciado na ausência de serviços, em conflitos entre equipes, em laudos e diagnósticos que transformam sofrimento em códigos que justificam a medicalização de crianças e adolescentes, ao invés de enfrentar as causas que as faz sofrer. “Não bastasse, há também ausência de informações e, especialmente, muito preconceitos contra mulheres pretas e as famílias que elas buscam manter” explica Abigail.
Abigail Torres afirma que a chamada “loucura” e crises agressivas podem ser facilmente compreendidas como resultantes de uma série de situações de violência vividas ou presenciadas. E, ainda, longas permanências em serviço de acolhimento, situações de desrespeito e humilhação na escola, no sistema judiciário, das ameaças de conselheiros tutelares, enfim, uma lista enorme de violências institucionais, que nos obriga a desvelar esse cotidiano institucional para produzir proteção, respeito, humanidade.
Para maior aprofundamento sobre como é produzida a “loucura” em crianças, adolescentes e mulheres pretas, indicamos a leitura do livro “Saúde mental: retratos de crianças esquecidas”, de Flávia Blikstein, publicado em 2021. As questões de distúrbios mentais e de desinstitucionalização não são problemas isolados a serem resolvidos pelas equipes de saúde mental, é um problema da sociedade brasileira a ser debatido por todas as pessoas que respeitam e valorizam a vida e deve ser enfrentado por todas as políticas sociais.
Na análise de Eliane Brum sobre a obra de Flávia Blikstein, a escritora intitulou sua coluna de “Como se fabricam crianças loucas”, artigo disponível neste link.
O vídeo da íntegra da palestra está disponível no YouTube e pode ser acessado pelo link: