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Yheda Gaiolli vem somar com a Vira e Mexe

É com alegria que apresentamos a mais nova colaboradora da Vira e Mexe, Yheda Gaioli. Escolher quem nos faz companhia é uma decisão ética porque significa ter com quem compartilhar projetos, formas de lidar com os desafios profissionais e também o que pode expandir nosso mundo comum. Yheda é fruto dessa escolha quando olhamos para o futuro da Vira e Mexe.

Nascida em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, ela é assistente social de formação com mestrado em Serviço Social pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Franca (SP). Yheda tem longa trajetória na Assistência Social e conta aqui um pouco da sua experiência.

“A minha primeira experiência foi na saúde. Atuei por mais de dois anos como assistente social em um hospital de alta complexidade, a Santa Casa de Misericórdia de Franca, que atende mais de 20 municípios da região. Nesse hospital eu aprendi muito a trabalhar em equipe porque existe toda necessidade de cuidado de quem chega e é um cuidado que precisa acontecer de forma muito rápida porque a internação é rápida até mesmo em decorrência dos perigos que ela pode ocasionar para a pessoa, como os riscos de infecção, por exemplo. Aprendi muito com o trabalho em equipe, aprendi muito sobre política pública, e sobre a universalidade do sistema de saúde.

Depois, eu chego na Assistência Social num período em que a gente estava discutindo o reordenamento dos serviços de acolhimento institucional para crianças e adolescentes. Eu trabalhava nesse serviço de alta complexidade num município que estava reestruturando este modelo de atenção. Estávamos saindo do modelo conhecido como”Aldeias”, que não podia mais existir por conta de todo o avanço na padronização dos serviços e da qualidade destes que veio com a Tipificação Nacional dos Serviços do SUAS, em 2009. Então, neste período estávamos saindo desse modelo para implementar um modelo de casas-lares.

Trabalhei nesta organização da sociedade civil por aproximadamente sete anos e, além de trabalhar com a transição para a implementação deste serviço na modalidade casa-lar, atuei como coordenadora de equipe e como gestora desta organização social.

Como assistente social, a primeira coisa que me veio foi a necessidade de estudar. Eu pensava que ao atender famílias, crianças e adolescentes com vulnerabilidade relacional e com afastamento desses vínculos, a minha entrega e minha oferta para essas pessoas, a minha proximidade delas precisaria ser muito boa e com muita qualidade porque é muito sofrimento estar afastado, independente da razão, de quem você convive, tem afeto e vinculação. E não só isso, estar afastado de seu território, das suas relações, de seu lugar de pertença. Foi o primeiro sentimento que me veio ‘preciso estudar para dar conta de criar junto com as famílias estratégias, propostas, para que este tempo que elas serão acompanhadas seja um tempo em que o serviço possa estar perto da realidade delas’.

Ao assumir a coordenação de equipe fui desenvolvendo outras habilidades, como conseguir pensar junto com as equipes as estratégias que precisam ser desenvolvidas, criar ideias novas para poder aproximar a equipe do trabalho, aproximar a equipe de nível superior e nível médio, criando estratégias de grupo para aproximar estes saberes e conseguir atender melhor a população.

Depois, trabalhei como gestora e fazia toda a gestão técnica de acompanhamento do trabalho desenvolvido e elaboração de planos de trabalho para a execução de serviços da Assistência Social e da Educação. Esta organização fazia a gestão de 10 casas-lares em mais de um município e de sete unidades de creche e educação infantil, também em mais de um município. Nesse trabalho eu desenvolvi mais ainda essa capacidade de colocar as equipes em conexão com elas e com o sentido do trabalho e o olhar para a execução de uma política pública. Porque quando a política pública é executada por uma organização da sociedade civil, essa relação parece desconexa. Consegui aproximar esta leitura da realidade dos profissionais tanto do serviço de acolhimento e, principalmente, os profissionais da educação. Fora isso tinha a execução dos planos de trabalho, o cronograma financeiro do plano de trabalho também sob minha responsabilidade.  

Qual o sentido de trabalhar na Assistência Social para você?

O sentido do trabalho é uma aposta que eu tenho para a vida. Que nenhuma vida vale mais que a outra e que a gente consegue, coletivamente, cuidar uns dos outros, uma das outras. Isso não é só um desejo meu, é uma política de Estado. Que o Estado tem a responsabilidade, ainda que neste momento muito mais avançado nas legislações do que nas práticas de trabalho.

Saber que cuidar das pessoas é uma responsabilidade do Estado é a coisa que mais faz sentido para mim e que mais me motiva a trabalhar na Assistência Social.

É uma coisa que eu aposto para a vida: sai deste campo individual, de um desejo meu, e vai para outro campo que é da responsabilidade do Estado, portanto, coletiva. É isso o que faz mais sentido para mim neste trabalho.

Também pensar que esses processos de acompanhar a implementação do SUAS no municípios, ofertando nosso trabalho para os trabalhadores e trabalhadoras é a possibilidade de ver esse sentido se concretizando. Eu acredito que tem diversas características que as pessoas vão aprendendo e adquirindo ao longo da vida, nas suas experiências, tem outras que vem a partir dos processos de educação permanente.

Uma experiência ou situação de trabalho que te impactou.

Foram várias. Tem muitas, mas o que me tocou dizer de uma experiência que me marcou foi um fio que une todas estas. O falecimento da mãe de uma criança que estava institucionalizada. O acolhimento de um grupo de irmãos e o retorno deste grupo que era muito numeroso para a família de origem. A primeira sensação que eu tive quando cheguei no serviço de acolhimento para criança e adolescente foi a me sentir extremamente insuficiente tamanha a complexidade daquela realidade.

Quando eu compreendi a responsabilidade do trabalho que eu tinha, que é em primeiro lugar trabalhar com a família através do trabalho social, compartilhado com diversas políticas públicas para que esta família tenha condições de receber de volta aquela criança ou adolescente. Quando eu entendi que esta era a responsabilidade do meu trabalho, nunca mais me permiti desistir, esmorecer, fazer algo que fosse diferente disso.

O que mais me marcava em  todas as experiências era quando eu identificava o afeto, o desejo de cuidar e de estar junto. Por isso, a capacidade de mobilizar a rede que fui adquirindo ao longo desta experiência para fortalecer as famílias é algo que me marcou muito porque isto possibilitou uma das coisas que eu mais me orgulho no meu trabalho.

Óbvio que não fiz sozinha, tinha uma equipe comigo. Nestes mais de sete anos trabalhando com serviço de acolhimento, apenas dois casos não foram possíveis de serem reintegrados para suas famílias de origem ou extensa. Apenas dois casos que eu acompanhei com a equipe é que teve destinação diversa que não a reintegração familiar. Isso é o que mais me marca deste trabalho.

Qual a contribuição que você traz para o trabalho da Vira e Mexe?

Tem duas dimensões. Uma mais afetiva que eu acredito que eu trago para o trabalho para a Vira e Mexe é meu afeto e minha disposição de estar com pessoas, de encontrar pessoas e poder facilitar processos em que, a partir do conhecimento que elas já têm, e outros fomentados por nós, possam se mobilizar e se motivar a querer encontrar usuários e usuárias e pensar possibilidades para o trabalho social. Essa é a primeira coisa que eu trago.

A segunda coisa que eu trago é o fato de ser uma trabalhadora que passou por processos de educação permanente e a partir disso foi transformada. Eu acredito que o que trago para a Vira e Mexe é esse conhecimento empírico que quando a gente tem processos de educação permanente comprometidos com a realidade dos trabalhadores e trabalhadoras, esse processo verdadeiramente motiva e mobiliza as pessoas a transformarem suas práticas. Foi um divisor de águas na minha vida profissional e levo isso para nossas rodas por saber que os processos de educação permanente são efetivamente capazes de transformar práticas. Vou levar isso em todas as rodas que eu estiver.”

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