Desde a aprovação da Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS (NOB-RH SUAS/2006), vem se ampliando e consolidando o entendimento de que as equipes de referência do SUAS são compostas por trabalhadores de diferentes níveis de escolaridade e profissões. O leque de profissões reconhecidas no SUAS é fruto do entendimento da incompletude e da complementaridade entre as diferentes profissões. As orientações do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) para a atuação de equipes no SUAS afirmam a importância da construção conjunta e a criação de espaços no ambiente de trabalho para que esses entendimentos comuns se produzam.
Passados 13 anos da aprovação dessa Norma, ainda percebemos muitas tensões no cotidiano que geram conflitos dentro das próprias equipes, geram dificuldades para quem está na coordenação dessas equipes e o mais importante: essas tensões tendem a diminuir a qualidade da atenção à população. Em seguida apresentamos duas referências que nos ajudam a afirmar isso.
A complexidade das situações com as quais a política pública de Assistência Social lida requer a mobilização de diferentes saberes e áreas do conhecimento, assim como das teorias, métodos e instrumentos das diferentes profissões. E o diálogo entre esses trabalhadores tem sido apontado como uma ferramenta fundamental para definir a melhor forma de lidar com uma realidade sempre em movimento, reproduzindo dinâmicas já conhecidas e apresentando situações novas às equipes. Ao dialogar sobre a atuação de assistentes sociais nas ações institucionais, Marilda Iamamoto é assertiva:
“O conhecimento criterioso dos processos sociais e de sua vivência pelos indivíduos sociais poderá alimentar ações inovadoras, capazes de propiciar o atendimento às efetivas necessidades sociais dos segmentos subalternizados, alvos das ações institucionais.” (CFESS, 2008. Grifo nosso)[1]
A interdisciplinaridade reconhece os saberes específicos de cada profissão, convocando-as a aportar o que sabem sobre a demanda de trabalho que se apresenta concretamente. Eduardo Mourão Vasconcelos, estudioso da interdisciplinaridade no Serviço Social, afirma:
“A interdisciplinaridade pode também ser entendida uma tendência à horizontalização das relações de poder entre os campos implicados e que exige a identificação de uma problemática comum, com levantamento de [pressupostos teóricos e políticos básicos] e de uma plataforma de trabalho conjunto” (Vasconcelos, 2002) [2].
Conversar, planejar junto, definir prioridades,
pactuar formas de atuar, experimentar fazer com-o-outro e analisar o que pode
ser mudado são ferramentas indispensáveis para o trabalho em equipes
interprofissionais como são as do SUAS.
Um campo de diálogo ampliado resulta em maior compreensão das demandas
que são apresentadas pelos cidadãos à Assistência Social e, portanto, tende a orientar
decisões mais assertivas e adequadas às situações vividas pelos cidadãos. Temos
visto que esses processos têm sido fundamentais para a tomada de decisão compartilhadas e assumidas em
corresponsabilidade, diminuindo a sensação de isolamento e sobrecarga dos trabalhadores.
[1] IAMAMOTO, M.V. Os espaços sócio-ocupacionais do Serviço Social. Brasília, CFESS, 2008.
[2] VASCONCELOS, Eduardo Mourão. Serviço social e interdisciplinaridade: o exemplo da saúde mental. In: Saúde Mental e Serviço Social: o desafio da subjetividade e da interdisciplinaridade. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002