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Experiências antirracistas nos Serviços de Convivência para Crianças e Adolescentes

Para entender na práticas as possibilidades de uma atuação antirracista nos serviços do SUAS, conversamos com dois coordenadores de Serviços de Convivência para Crianças e Adolescentes Caminhando Juntos (Cajuns), serviço vinculado à Secretaria de Assistência Social de Vitória (ES). As atividades têm por objetivo promover o desenvolvimento de capacidades e potencialidades desse público, em conformidade com as diretrizes do SUAS para o serviço de convivência e fortalecimento de vínculos.

Em uma conversa franca e aberta, Lisa Alpoim, coordenadora do Cajun do Morro do Quadro reconhece que, mesmo sem intenção, o racismo pode se manifestar nas próprias falas dos trabalhadores dos serviços e que para combater o racismo, é necessário um esforço permanente de atenção e educação. Confira a entrevista abaixo. 

Visita ao Museu Capixaba do Negro – experiência do Cajun Morro do Quadro 

Como a questão do racismo aparece no cotidiano do serviço de convivência e quais as expressões do racismo no dia a dia das crianças, adolescentes e suas famílias?

A questão do racismo aparece no dia a dia dos serviços de convivência. Conversando com a equipe, foi um consenso de que em todo o território aparece muito no dia a dia, seja na forma da organização do cabelinho da criança, da roupa, da fala, e é um tema bem amplo e debatido nos serviços de convivência.

Entendemos que o racismo não se manifesta só através de atos violentos, também se manifesta com palavras, com ações, olhares, gestos, então o racismo aqui no Cajun do Quadro nós observamos muito que vem através da fala de alguma criança e até mesmo nossa, que somos educadores, coordenadores, técnicos de referência. Aqui no Cajun do Quadros a gente se policia muito e tenta se educar porque 99% das nossas crianças são pretas. 

Quais estratégias a equipe vem construindo para enfrentar o racismo junto às crianças e adolescentes que frequentam o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos?

Nesse ano, iniciamos o nosso planejamento das atividades do mês da Consciência Negra percebendo a necessidade de trazer informações. Primeiro trouxemos algumas afirmações, como: “o racismo realmente existe e eles [crianças e adolescentes] sofrem todos os dias esse racismo.” Mas nós fomos questionados ao fazer nosso planejamento porque somos pessoas brancas falando para pessoas negras.

Temos um grupo reflexivo no qual trazemos a temática para ser debatida. Dentro deste grupo o educador nos trouxe que muitos têm vergonha da sua cor e não sabem da sua origem. Eles trouxeram esse tema para o grupo reflexivo e dali nós tiramos essa ideia. A equipe do Cajun do [Morro do] Quadro sempre tira as ideias através das observações, das falas, do dia a dia dentro deste grupo reflexivo. Não tiramos da caixinha. Fazemos um planejamento, que pode ser mudado quando observamos e entendemos que há necessidade de mudar este percurso. Porque nós trabalhamos com a realidade. Nós trabalhamos muito a escuta dessas crianças e adolescentes, queremos saber como eles vivenciam o racismo no dia a dia.

Então, mudamos nosso planejamento para dizer, sim, as pessoas brancas podem ser antirracistas, apoiando, dando voz às pessoas negras. E dentro desse planejamento nós trouxemos algumas obras para o Café Literário, especialmente do Maciel de Aguiar, um escritor capixaba que tem cento e quarenta obras escritas, muitas delas sobre as histórias dos quilombolas. Então escolhemos esse autor para trazer informações da história capixaba do ponto de vista da trajetória e da força do povo negro no Espírito Santo.

Fomos ao Museu do Negro, onde tem obras do Maciel de Aguiar, que traz a história real da princesa Zacimba Gaba. Levamos as crianças para ler, procurar a sua origem, quem são eles, de onde vieram, entender o fato real que aconteceu e por que eles chegaram até aqui. Eles ficaram encantados ao saber que Zacimba era uma princesa que foi escravizada. O Espírito Santo tem uma riqueza dentro desta obra que é mostrada pelo escritor, principalmente sobre os quilombolas. 

Cine Cajun – experiência do Cajun Romão

O Cine Cajun é um projeto de intervenção desenvolvido pelo Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos na comunidade Romão, em Vitória, Espírito Santo. Por meio da linguagem lúdica dos filmes de curta e longa metragem, todas as quintas-feiras, são abertas rodas de conversa para debater ideias, compartilhar sentimentos e imaginações. O objetivo é abordar questões de interesse da comunidade, suas desproteções e também suas potencialidades criando um ambiente de diálogos e debates com crianças e adolescentes de forma lúdica. O Cine Cajun conta com a parceria do curso de Serviço Social da UniSales.

No mês de novembro o Cine Cajun propôs um debate sobre a questão da negritude com filmes protagonizados por personagens negros, ressaltando suas potencialidades, e filmes que tratam do racismo institucional e conflitos territoriais gerados pelo racismo. 

A pedido da Vira e Mexe, Igor Soares, coordenador do Cajun Romão, conversou com alguns dos adolescentes participantes da iniciativa que compartilharam suas percepções dessa experiência e deram dicas de filmes e clipes para trabalharmos questões com os jovens. Escute abaixo as respostas dos jovens.

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